Por Estevão Moreira
Caros,
Queria partilhar uma atividade que elaborei para desenvolver com meus alunos do Colégio Santo Inácio (RJ). Contextualizando: trata-se de um grupo coral/instrumental, com alunos do 6º ano EF I ao 2º EF II onde muitos alunos já fazem aula de instrumento fora do colégio. A mim cabe, portanto, em suma, ajudar os alunos a tocar juntos.
Então, com esse grupo hoje eu tinha 30 minutos pra fazer uma oficina que ao mesmo tempo funcionou como uma espécie de "dinâmica". Eu tinha um grupo de alunos heterogêneo nas mãos, cantores e instrumentistas, dos quais alguns sabem pouca teoria musical. Mas eles tem o que eu considero de um conhecimento musical pouco sistematizado e bastante intuitivo. Tenho apostado muito neste tipo de conhecimento, à revelia da preocupação se os alunos "sabem ou não sabem" música: parto do princípio que eles sabem.
Por outro lado, eu precisava trabalhar com eles a questão do ritmo, pois, mesmo que eles "saibam música" em alguma medida, há umas questões técnicas que a minha expertise pode contribuir para a prática deles. Assim, pensei em fazer um exercício que aliasse não somente a questão da técnica, mas também a questão da partilha, na medida em que um aluno passaria a ensinar o seu saber ao outro e que fosse possível ensinar com qualidade.
Criei portanto este exercício de quatro compassos para ser tocado com palmas graves e palmas agudas. Para isso, pra começar, apresentei o princípio básico dO Passo (que já era conhecido por aproximadamente metade do grupo, pois alguns estudaram no Fundamental I) e então distribuí o exercício recortado em tiras. Uma tira com um compasso para cada pessoa: tiras A, B, C e D. Assim, pedi que cada pessoa estudasse individualmente seu exercício (um compasso) e, por ser tão "simples", os alunos conseguiram fazer com facilidade, a partir da explanação ou das explicações pontuais minhas ou dos colegas vizinhos que soubessem. Após 3 minutos, pedi para eles formarem pares AB e CD e que se ensinassem reciprocamente seus exercícios, fazendo agora 2 compassos rítmicos. Após 3 minutos, pedi que se formassem grupos ABCD: já eram 4 pessoas fazendo agora 4 compassos. Ao fim, pedi que voltassem para suas posições iniciais — esqueci de dizer, uma grande roda — para fazermos juntos o exercício final: os 4 compassos. Conseguimos fazer de primeira! Agora imaginem 55 pessoas fazendo as palmas graves e agudas do exercício. Os alunos ficaram impressionados com o resultado.
Depois perguntei a eles partilharem suas percepções e várias impressões foram ditas, dentre elas:
a) um exercício que parecia simples (trivial) se tornou em um exercício com certa complexidade e proporções maiores;
b) o fato de um ter ajudado o outro foi muito importante e facilitador do processo;
c) o grupo conseguiu entrar em um mesmo ritmo;
d) o grupo fez música com só com o corpo;
e) outras que não me lembro.
Então fica aqui, uma partilha de algo que inventei essa semana (dezembro/2011) e que espero poder ajudá-los de alguma forma e ficaria feliz em conhecer os desdobramentos desenvolvidos por outros professores. Pensem ainda que este exercício pode ser feito com mais compassos, proporcionando outros níveis de agrupamento. Podem ser utilizadas também outras figuras rítmicas. Utilizei somente dois tipos (semínima e dupla de colcheias) para não ter que entrar, naquele momento, em questões teóricas, mas incentivá-los a quererem saber mais a partir de um resultado concreto e animador.
O fator relacional do exercício foi o que me fez buscar pensar em alguma atividade em que isso fosse possível, pois assim os alunos puderam ser protagonistas dos seus aprendizados, participando mais diretamente do processo, não somente no aprender, mas também no ensinar. No campo da [filosofia da] linguagem, poderíamos dizer que esse exercício possibilitou o estabelecimento de um "código comum" através de uma prática que envolveu diretamente todos os participantes nessa construção.
Quem tiver mais ideias a partir deste exercício, partilhe conosco!
Forte abraço!
Estevão Moreira